Cheguei à décima crônica um tanto reflexivo. Quando comecei a escrever para a assuntasó!, eu ainda estava digerindo um turbilhão emocional — daqueles que só se superam com vários cosmopolitans e um pouco de autocompaixão. Primeiro, porque acabara de assistir ao fim repentino — e, sejamos sinceros, totalmente desastroso — de Sex And The City (ou melhor dizendo, And Just Like That…). E, por mais que eu tente aceitar, nada do encerramento do spin-off da, talvez, série mais celebrada da HBO fez jus aos incontáveis Manolos Blahnik que estiveram ao lado de Carrie por todos esses anos.Até hoje não me conformo com o fato de uma das séries mais icônicas da cultura pop — e uma das minhas favoritas — ter se despedido sem a menor dignidade, movida por um roteiro cambaleante, personagens que pareciam ter perdido o mapa emocional e, claro, a ausência do nosso farol afetivo: Samantha Jones (interpretada por Kim Cattrall).
Como se não bastasse a ideia de nunca mais acompanhar os dilemas de Carrie, outro abalo veio quando me dei conta da idade avançada de Woody Allen — que completou 90 anos em 2025 —, o diretor e roteirista que capturou — pelas próprias lentes — o absurdo do cotidiano como ninguém na história do cinema.
De repente, percebi que os riscos de um segundo fim pairavam diante de mim, como aqueles medos que a gente insiste em adiar. E, para ser honesto, nada disso é lá muito agradável — e ainda carrega um discreto desconforto existencial. Nesse meio tempo, escrevi sobre tudo o que a modernidade tem nos oferecido: neuroses sexuais, tendências de comportamento e fetiches diferentões.
Não é novidade para ninguém que trago um pouco de Carrie Bradshaw e Woody Allen (como alter ego dos seus personagens) nos meus textos. Escrevo como quem percorre a cidade com um olhar atento — aquele olhar que flagra o detalhe que todo mundo ignora, mas que decide, de repente, se transformar em pergunta, em dúvida ou em crônica. Meu estilo vive nesse trânsito entre o formal e o popular, porque a vida às vezes pede um Chanel; às vezes pede pantufas e intimidade.
O humor, claro, está sempre no meu bolso. Nunca o humor escancarado, mas aquele sorriso de canto, meio cúmplice, meio debochado — sem descartar o autodepreciativo. Ele aparece numa ironia bem colocada, numa comparação inesperada ou naquela provocação inteligente que faz o leitor levantar uma sobrancelha e pensar: “touché.”
Gosto de contar histórias, mesmo quando falo de ciência. Muitas começam com algo improvavelmente trivial: um dilema minúsculo, uma pergunta que belisca ou um dado que desperta mais do que informa. E, embora dependam muitas vezes apenas da palavra escrita, carregam um ritmo quase visual: títulos que piscam, frases que respiram, construções que lembram o movimento de um infográfico ou a cadência de uma boa conversa ilustrada.
No fundo, o que move esses textos é a busca pelo detalhe que desperta curiosidade. Sempre há um gancho sutil, algo que vira a chave na cabeça de quem lê e provoca aquela sensação de descoberta: “Nunca pensei nisso desse jeito.” É assim, com leveza, que convido o leitor a transformar a modernidade em pauta de crônica.
Um abraço — e até a próxima!